Hoje o Papa Francisco está em Estrasburgo em visita ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa. Uma viagem que chega 26 anos depois daquela de João Paulo II, que tinha indicado como campos de missão para uma Europa unida: a proteção da criação, a solidariedade aos migrantes e refugiados e a reconstituição de uma visão integral do homem. Alessandro di Bussolo, do Centro Televisivo Vaticano, pediu ao Cardeal Seretário de Estado, Pietro Parolin, se ainda são atuais esses temas:
Cardeal Pietro Parolin – “Eu diria que são temas de grandíssima atualidade, talvez poderíamos acrescentar de dramática atualidade e, mais uma vez, falar de emergências, de autênticas emergências, come enalteceu várias vezes o mesmo Papa Francisco. Esses temas da Proteção da Criação, declinado de modo laico, da defesa do ambiente, e o tema da solidariedade, em relação às pessoas que procuram novas oportunidades fora do próprio país, é um tema que se repete frequentemente nos seus discursos… Sobretudo esse da solidariedade, que não é somente um dos valores da Europa unida, mas eu diria que é o próprio objetivo da existência da Europa e, certamente, uma das suas dimensões fundamentais. E eu diria, inclusive, que a justa perspectiva para enfrentar e para tratar esses temas é aquela da visão integral do homem, que é o terceiro aspecto que você fazia menção na proposta de João Paulo II. Um homem considerado, em todas as suas dimensões, incluindo, portanto, a dimensão espiritual e a dimensão transcendental, que está preparado justamente para essa integralidade de aproximação, pra dar uma resposta adequada e construtiva a esses desafios que precisa enfrentar.”
CTV – Pesquisas indicam que, hoje, somente 30% dos europeus têm uma visão positiva da União, também por efeito da crise econômica. A ideia de unidade europeia perdeu seu brilho. Como a Europa pode redescobrir o sentido da própria identidade?
Card. Parolin – “Muitas vezes a Europa é vista pelas pessoas como uma realidade muito distante, uma realidade burocrática que não se interessa pelos problemas efetivos que as pessoas vivem todos os dias… E, também, essa crise é articulada inclusive pela perda de esperança, uma perda de confiança de que a Europa possa dar resposta a tantos problemas que o continente encontra para viver. Sabemos, por exemplo, que a diferença de algumas dezenas de anos atrás, terminou o otimismo em relação ao futuro e à capacidade de dar respostas. Provavelmente, eu penso, não é mais um dado aceitado aquele que foi a origem da Europa, os valores que se tinha na origem da Europa. Não é mais uma suposição comum que permite de enfrentar juntos também os problemas, as dificuldades e os desafios. Por isso, eu acredito que é muito importante desenvolver uma obra de formação e de educação, sobretuto, em relação aos jovens, para procurar mostrar concretamente a validade do projeto europeu. Que o projeto europeu, se vivido segundo o espírito e os valores dos fundadores, que lhe deram vida, ainda pode ser capaz, hoje, de responder aos desafios da Europa atual e de dar respostas concretas às pessoas. Acredito que essa seja a dimensão fundamental, junto à espiritualidade, que eu identificaria com essa visão integral do homem não reduzido a uma só dimensão, mas no seu completo de aspectos e das suas dimensões.”
CTV – “A Europa está cansada. Devemos ajudá-la a rejuvenescer”, disse o Papa Francisco em 15 de junho ao Santo Egídio, lembrando depois que existem 75 milhões de jovens europeus que não trabalham e não estudam. Conjugar a segurança e a solidariedade pode ser a estrada justa?
Card. Parolin – “Eu acredito que sim, que essa é a estrada que deve ser percorrida. Hoje, infelizmente, o grande problema da Europa é a desocupação, a falta de trabalho, sobretudo, para tantos jovens. Por isso, aumenta a exclusão social. Ao contrário, uma solidariedade e uma atenção a essa categoria de pessoas, como a tantas outras categorias de pessoas, pensemos aos migrantes, pensemos às mães que se veem sozinhas para educar os filhos, pensemos aos idosos, pensemos aos portadores de alguma deficiência… Todas essas categorias de pessoas, uma atenção particular a eles poderá ser o caminho seguro para retomar o vigor ao projeto da Europa. Porque, repito, a Europa nasceu justamente por isso, para garantir a paz e para garantir uma atenção particular em relação às categorias desfavorecidas.”
CTV – As 12 estrelas da bandeira europeia lembram aquelas da coroa de Virgem Maria. Essas são as raízes da Europa, infelizmente colocadas tanto em discussão. O senhor acredita que se esteja realmente pensando de reavaliá-las?
Card. Parolin – “Eu acredito que sim. Se olharmos o Tratado de Lisboa, ali no primeiro artigo, me parece, é mencionada uma série de valores que são fundamentalmente valores cristãos, que têm as suas raízes na história e na contribuição que o nosso cristianismo deu ao continente, a partir da dignidade da pessoa humana, o tema da liberdade, o tema da democracia, o tema da igualdade, o tema do estado de direito, o tema do respeito dos direitos humanos. Então, são todos valores que nascem do humus do cristianismo e se procura vivê-los e realizá-los. Eu acredito que se está dando vigor às mesmas raízes cristãs da Europa. Sem esquecer a contribuição específica que os cristãos devem dar também à construção europeia. Acredito que nós, cristãos, e nós, católicos em particular, devemos estar convictos da bondade e do valor desse projeto, e levar nossa ajuda em dois sentidos. De um lado, dar um coração à Europa, dar uma alma à Europa. Aquilo que se lamenta normalmente é justamente essa falta de alma. Acredito que essa é uma contribuição específica que nós podemos dar. E, do outro lado, chamarei a atenção a um conceito muito próximo ao Papa Bento XVI que é aquele de estender os espaços da razão, entre fé e razão não existe oposição, como espaços de encontro e colaboração com todos para a construção desta Europa que todos desejamos e que todos sonhamos.”
CTV – O Papa vai visitar duas instituições diversas: uma claramente política, como o Parlamento Europeu, e uma organização intergovernativa que reúne representantes de 47 Estados como o Conselho da Europa. Os dois discursos também terão tons diversos…
Card. Parolin – “São organismos que têm diferentes aspectos, têm diferentes dimensões. O Papa certamente vai avaliar as características de cada um, mas, ao mesmo tempo, também vai enaltecer aquele que é comum e o esforço que ambos devem direcionar, sobretudo, em relação à paz, à defesa dos direitos humanos na construção da Europa.”
Por Rádio Vaticano