Caridade, base da vida fraterna

4“Jesus Cristo é a nossa paz, é aquele que fez de dois um só povo.”

E Ele mesmo, antes de ascender ao céu, diz aos discípulos: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”.

Mas que paz é esta que Cristo nos dá e em cujo vínculo se conserva a unidade do espírito?

É a caridade recíproca através da qual procuramos amarmo-nos uns aos outros.(…) Dessa fala Beato Pedro quando adverte: “Sobretudo conservai uma caridade recíproca e ininterrupta”.

O que significa caridade recíproca se não “o que é meu é também teu”?

Isto é tudo aquilo que eu digo quando falo dos meus averes com uma pessoa que amo.

A caridade recíproca é mútua, não pode ser privada da comunhão de amor. E para além de ser recíproca deve ser também ininterrupta, d’outra forma, não existirá nem vínculo de paz nem ligação de amor. É ininterrupta a caridade que se fundamenta na verdade, que não é fragmentada por rancores ou suspeições, mas que invés é constantemente nutrida com aceitação e submissão reciprocas; que é protegida com delicadeza e prudência para que não diminua; que não é escurecida por nenhum fingimento.(…)

De consequência, que ninguém se lisongeie do amor de Deus, que ninguém se engane pensando que o ama: se não ama o próximo não ama Deus.(…)

De que outro modo poderia dar benefício a Deus se não dando benefícios àquele no qual Ele se encontra necessitado? Porque em si mesmo Deus não precisa de nada: é nos seus membros que Ele pede e recebe, que é amado e desprezado.

Portanto, no querer bem ao próximo, através de um ligame de amor e um vínculo de paz, o amor de Deus e a unidade do espírito são em nós preservados (protegidos).

Quem não quer bem ao irmão retira-se da unidade do espírito, não ama Deus e não vive do espírito de Deus, mas do seu próprio espírito: vive,enfim, de si mesmo, não de Deus.”

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De “De vita coenobitica, seu communi”, de Baldovino di Ford (1120-1190),(nn. VIII-IX, tradução de E.A. Mella, Magnano 1987,p. 46-51).

Fonte: comshalom.org

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