Cardeal Cantalamessa /Foto: Daniel Ibanez – Arquivo CNA

“Veio morar entre nós” foi o tema da terceira e última pregação de Advento do pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, ao Papa e à Cúria Romana, na manhã desta sexta-feira (18/12), na Sala Paulo VI.

Na memorável mensagem “Urbi et orbi” de 27 de março passado na Praça São Pedro, após ter lido o evangelho da tempestade acalmada, o Santo Padre se perguntava em que consistia a “pouca fé” que Jesus censurava nos discípulos. A seguir, o frei capuchinho disse:

Eles não tinham entendido quem era que estava com eles no barco; não tinham entendido que, com ele dentro, o barco não podia afundar porque Deus não pode perecer. Nós, discípulos de hoje, cometeremos o mesmo erro dos apóstolos e mereceremos a mesma reprovação de Jesus se, na violenta tempestade que se abateu sobre o mundo com a pandemia, nós nos esquecêssemos que não estamos sós no barco e à deriva nas ondas.

A festa do Natal nos permite alargar o horizonte: do mar da Galileia ao mundo inteiro, dos apóstolos a nós: “E a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus desceu sobre esta terra e Deus não pode perecer.

“Deus está conosco”, isto é, está do lado do homem, é seu amigo e aliado contra as forças do mal. Devemos reencontrar o significado primordial e simples da encarnação do Verbo, para além de todas as explicações teológicas e dos dogmas construídos sobre ela. Deus veio habitar em nosso meio! Quis fazer deste evento o seu nome próprio: Emanuel, Deus-conosco. O que Isaías profetizara, “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel (Is 7,14), tornou-se fato realizado.

“Deus é amor, por isso é humildade! O amor cria dependência da pessoa amada, uma dependência que não humilha, mas torna felizes. As duas frases “Deus é amor” e “Deus é humildade”, são como dois lados da mesma moeda”, disse o frei Cantalamessa. Mas o que significa a palavra humildade aplicada a Deus e em que sentido Jesus pode dizer: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29)? A explicação é que a humildade essencial não consiste no ser pequeno (pode-se ser pequeno sem, de fato, ser humilde); não consiste no considerar-se pequeno (isso pode depender de uma má ideia de si mesmo); não consiste em proclamar-se pequeno (pode-se dizê-lo sem crê-lo); consiste em fazer-se pequeno e fazer-se pequeno por amor, para elevar os demais. Neste sentido, realmente humilde é somente Deus”, disse o frei capuchinho.

O Natal é a festa da humildade de Deus. Para celebrá-la em espírito e verdade, devemos nos fazer pequenos, como devemos nos abaixar para entrar pela porta estreita que dá acesso à Basílica da Natividade em Belém.

O “sacramento” da pobreza! São palavras fortes, mas fundamentadas. Se, de fato, pelo fato da encarnação, a Palavra, em certo sentido, assumiu cada homem (assim pensavam alguns Padres gregos), pelo modo em que ela se realizou, ele assumiu, em um título todo particular, o pobre, o humilde, o sofredor. “Instituiu” este sinal, como instituiu a Eucaristia. Assim, aquele que pronunciou sobre o pão as palavras: “Isto é o meu corpo”, pronunciou as mesmas palavras também sobre os pobres.

O frei Cantalamessa concluiu a sua pregação com as seguintes palavras: “Ó Rei das nações. Desejado dos povos; Ó Pedra angular, que os opostos unis: Oh, vinde e salvai este homem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra!” Vinde e reerguei a humanidade extenuada pela longa prova desta pandemia.

Traduzido do italiano por Pe. Ricardo Farias, Ofmcap

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