Foto: Gianna Bonello na Unsplash

Irmãs beneditinas falam sobre vocação à vida monástica e influência de São Bento nas regras dos mosteiros; “A vida contemplativa é o pulmão da Igreja”, afirma religiosa.

“Ora et labora”, na tradução para o português, “ora e trabalha”, é um lema conhecido de São Bento – celebrado nesta terça-feira, 11, e que permeia a vida monástica. Atraídas por este estilo de vida equilibrado, Irmã Maria de Fátima Guimarães, de 63 anos, e Irmã Ana Lydia Sawaya, de 66 anos, escolheram viver segundo os ensinamentos do santo há, respectivamente, 22 e 5 anos.

Vivendo no Mosteiro de São João, em Campos do Jordão (SP), Irmã Maria de Fátima afirma que a vida monástica consiste em tempos de oração e de trabalho bem dosados. São Bento, complementa ela, “ensina também a viver em união íntima com Deus e a procurar viver como o Cristo, que é nosso modelo”.

Irmã Ana Lydia recorda que entrou no mosteiro beneditino Camaldolense de Sant’Antonio Abate, em Roma, em 2018. Era leiga consagrada e membro da Pia Associação Memores Domini do Movimento de Comunhão e Libertação desde quando tinha 22 anos.

“Os Memores Domini são consagrados que vivem em comunidade, se comprometem a viver a pobreza, castidade e obediência, em um estilo e espiritualidade muito próxima à beneditina, mas trabalham no mundo. Eu era professora universitária da Universidade Federal de São Paulo. Hoje, vivo no Mosteiro da Encarnação em Mogi das Cruzes (SP)”, conta.

Vida monástica

“A vida monástica é um chamado que Deus faz a algumas pessoas para se aproximarem mais intimamente d’Ele, dedicando muitas horas por dia à oração por si e pelo mundo” – Irmã Ana Lydia

A vida monástica é marcada pelos tempos de oração. “Paramos tudo que fazemos para celebrar a liturgia das horas sete vezes ao dia. Também temos tempo para oração particular e estudo, como a lectio divina. O trabalho consiste em catequese, atendimento de pessoas carentes, direção espiritual, retiros. Realizamos trabalhos domésticos, como o cuidado da casa e trabalhos artesanais para a manutenção do mosteiro”, revela Irmã Maria de Fátima.

A religiosa afirma que os pilares da ordem beneditina são a humildade, a obediência, o silêncio, a oração e a hospitalidade. Segundo ela, desde que a regra beneditina se tornou a regra dos mosteiros, foi dado um grande impulso na evangelização dos povos na Europa.

“Os mosteiros se tornaram centros de evangelização com escolas, ensino de técnicas agrícolas, preservação de obras literárias, atendimento aos pobres, peregrinos e todos que batem às suas portas. Mas o principal é a oração que impulsiona. Os contemplativos são como para-raios no mundo”, opina.

Para a Irmã Ana Lydia, a vida monástica é um chamado que Deus faz a algumas pessoas para se aproximarem mais intimamente d’Ele, dedicando muitas horas por dia à oração por si e pelo mundo. Quem é chamado à vida monástica, prossegue a religiosa, se sente impelido a rezar, silenciar, acalmar e a contemplar a beleza de tudo.

Pulmão da Igreja

 “A vida contemplativa é o pulmão da Igreja e também o seu coração, diziam os antigos. É uma vocação semelhante àquela dos profetas, chamados por Deus a ouvi-Lo e a viver próximo d’Ele, corrigindo e apontando para o mundo e a sociedade, através de sua vida de intensa oração, modesta e simples, o caminho para o bem, a verdade e a vida”, afirma a irmã beneditina.

Ao longo dos milênios, Irmã Ana Lydia destaca que a “vida monástica conheceu momentos de grande florescimento e decadência”. “O Espírito Santo, porém, sempre a fez reflorescer, sobretudo nos momentos de maior crise”.

“A vida contemplativa é o pulmão da Igreja e também o seu coração, diziam os antigos. É uma vocação semelhante àquela dos profetas, chamados por Deus a ouvi-Lo e a viver próximo d’Ele, corrigindo e apontando para o mundo e a sociedade, através de sua vida de intensa oração, modesta e simples, o caminho para o bem, a verdade e a vida” – Irmã Ana Lydia

Vocação

A religiosa conta também que descobriu sua vocação aos 20 anos visitando um mosteiro beneditino. Era universitária e participava da Pastoral Universitária da Arquidiocese de São Paulo quando foi com outros estudantes aprender alguns cantos gregorianos.

“Quando entrei na capela e vi as monjas, fiz uma experiência muito forte que me dizia: ‘Descobri quem eu sou, eu sou isto aqui’. Um estudante que estava comigo percebeu a intensidade da experiência que estava vivendo e foi dizer ao responsável da Pastoral Universitária que eu tinha vocação. O responsável então me chamou para participar do grupo de verificação vocacional”, revela.

 A primeira vez que foi ao grupo, frisa a religiosa, ela teve a certeza de que seria para sempre. “Por isso o amor à vida monástica sempre foi presente em minha vida”, sublinha. Quando decidiu entrar para os Memores Domini, Irmã Ana Lydia ressalta que o padre responsável, Don Luigi Giussani, lhe disse: “É como um mosteiro no mundo”. “Fui à Itália conhece-los e adorei a proposta”, conta.

A entrada agora na congregação beneditina camaldolense, reflete a irmã, é uma continuação de uma vida dedicada ao Senhor. “Ele agora me chama a uma vida muito mais intensa de oração”, finaliza.

Aos que se sentem vocacionados à vida monástica, Irmã Maria de Fátima aconselha, primeiro, a não terem medo e a confiarem na Virgem Maria. Depois, a conhecerem o mosteiro, onde poderão fazer um acompanhamento e discernimento com a irmã responsável pelas vocações. Após este discernimento, a religiosa afirma ser possível, vendo que existe mesmo a vocação para este tipo de vida, fazer um tempo de experiência.

Fonte: Canção Nova