Desde o Antigo Testamento vemos o costume dos Sumos Sacerdotes portarem uma cobertura para a cabeça, como encontramos no livro do Levítico, onde há uma referência aos filhos de Aarão: “Depois mandou que se aproximassem os filhos de Aarão, e os revestiu de túnicas e de cinturas, pondo-lhes também mitras nas cabeças, como o Senhor lhe tinha ordenado”(8,13).
Igualmente os cristãos empregaram um chapéu sacerdotal, que logo foi reservado aos Bispos, como nos explica LECLERCQ: “Os cristãos fizeram igualmente o uso de um chapéu sacerdotal, tanto no Ocidente como no Oriente; sendo, entretanto, em todos os lugares reservado aos bispos, e tendo por nome μίτρα (mitra).”
A mitra é um dos mais nobres símbolos dos príncipes da Santa Igreja, seu uso remonta, enquanto insígnia episcopal, ao ano 1000, sendo antes desta data utilizada por alguns Bispos, e depois, de uso universal na Igreja. É a opinião de alguns autores, como o Cardeal Bona, que crê também que é por volta do século X que ela tomou sua forma atual – ao menos nas linhas gerais.
Sendo a mitra, antigamente, como uma coroa, constata-se que ela se transformou, até tomar a forma característica de hoje. Tais mudanças devem-se a vários fatores de ordem prática, como, por exemplo, o contato imediato do metal gélido com a cabeça, o que causava grandes inconvenientes – sobretudo no inverno europeu. Leve-se em conta também que quem a portava era geralmente um venerável prelado, a quem os anos pesavam, portanto, senão todos, ao menos muitos já não tinham mais fisicamente o vigor da juventude. Isso se refletia na calvície de suas respeitáveis frontes, fazendo aumentar o desconforto do contato da pele com o metal enregelado. Enfim, o peso, a estética e a maneabilidade (julgue-se pela quantidade de vezes que o Bispo deve tirar, ou colocar a mitra em cerimônias) acabaram por burilar a antiga mitra, até obtermos sua forma atual. Recorde-se que seus dois lados, os quais se encontram no cume, desenhando uma ponta, simbolizando juntos a sabedoria que deve ter o Bispo, acerca de cada um dos dois Testamentos.
Outro fator importante é sua cor: branca. A cor alva significa a castidade do prelado, ele a porta sobre a cabeça, pois é nela que se encontram os cinco sentidos, pelos quais o brilho da pureza pode ser tão facilmente maculado. É inclusive para protegê-los que os Bispos portam a mitra da castidade.
Por último, cumpre rememorar o que, muito belamente, expressa DURAND, a saber:
“O Bispo abençoa, com a cabeça recoberta com a mitra; ele executa então uma função toda divina. Deus abençoa por seu ministério; mas, quando ele reza, ele a retira: é então o homem que se humilha diante de Deus. O mesmo acontece quando ele incensa, pois o incensamento significa as orações dos santos, oferecidas a Deus pelo pontífice”.