Bruno Franguelli, SJ

Em tempos de olimpíadas, os olhares do planeta se voltam para os atletas, para a superação de seus próprios limites, para as maravilhas que o corpo devidamente em forma e preparado é capaz de fazer. Mas, para chegar até aqui, eles precisaram de inúmeros treinos, exigente disciplina e muito esforço pessoal. Santo Inácio de Loyola, quando fala do crescimento na vida espiritual, utiliza a mesma linguagem do esporte e do atletismo. Rezar, para o santo, é exercitar-se, e para isso, é necessária muita disciplina e esforço pessoal. É por isso que seu famoso livrinho se chama Exercícios Espirituais. O próprio santo de Loyola nos explica o que são estes exercícios:

“Chamo de exercícios espirituais, todo o modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e de outras operações espirituais. Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais, da mesma maneira todo o modo de preparar e dispor a alma, para tirar de si todas as afeições desordenadas e, depois de tiradas, buscar e achar a vontade divina na disposição da sua vida para a salvação da alma, se chamam exercícios espirituais.”

Como, então, exercitar-se na oração segundo Santo Inácio?

O Santo nos propõe, entre tantos outros modos de orar, um método (caminho) que pode nos ajudar no atletismo espiritual de cada dia:

O tempo pode ser de 30 minutos diários destinados à oração pessoal. É muito importante reservar um tempo propício para esse “encontro íntimo com o Senhor”; é preciso reconhecer que é difícil manter uma rotina de oração. Isso pede muita fidelidade, como a frequência nas academias. Assim como ensina Santo Inácio, é preciso muito ânimo e generosidade para começar o retiro. O melhor tempo para a oração diária é aquele em que a pessoa está mais descansada, menos dispersa e agitada pelas preocupações do dia. Seria bom que fosse sempre à mesma hora. Se isso não for possível, pelo menos faça um plano semanal. Recomenda-se ter uma espécie de diário espiritual (caderno de vida), onde se anota aquilo que, durante a oração, aconteceu de mais importante e significativo para o crescimento na fé e em sua prática na vida ou apelos de conversão pessoal. Eis o método para exercitar-se na oração:

1- Escolha um lugar apropriado para a oração e uma posição corporal que mais ajude você. Desligue o celular, cuide para não receber vi- sitas ou ser interrompido(a). A ambientação ajuda: vela, crucifixo e bíblia.

2. Pacifique-se através do silêncio exterior e interior. Para isso, ajuda respirar profundamente várias vezes, de maneira pausada. Talvez uma música ambiente bem baixinha também ajude a criar um clima de oração. Uma vez que se sente pacificado, faça o sinal da Cruz.

3. Tome consciência de que você está acolhendo a presença de Deus como amigo; invoque sempre o Espírito Santo.

4. Faça uma oração de oferecimento na qual todos os pensamentos, palavras, sentimentos e ações sejam colocados nas mãos de Deus para que Ele os transforme. Ajuda expressar todas as preocupações, todas as alegrias, todas as dificuldades, tudo o que está acontecendo na vida deve ser dito a Deus.

5. Peça a graça de acordo com o roteiro de cada dia.

6. Dedique tempo à Palavra de Deus e às imagens e lembranças que ela vai trazendo. Saboreie a Presença de Deus dentro do seu coração.

7. Termine com uma despedida amorosa, agradecendo por aquilo que aconteceu na oração. Depois, reze um Pai-Nosso ou uma Ave-Maria.

Registrar a oração no caderno de vida

Após cada tempo de oração, faça a revisão geral de tudo o que ocorreu nela. Tome o caderno e anote, primeiro, como se saiu no tempo de oração pessoal. O que te ajudou? Que dificuldades apareceram?  Em um segundo momento, anote aquilo que lhe pareceu mais importante para o crescimento da fé e para a vida: Que Palavra de Deus mais o/a tocou? • Que sentimentos predominaram nessa oração? Sentiu algum apelo à conversão, desejo, inspiração? Que resistências sente para seguir esse apelo ou inspiração?

Este é um precioso método que pode nos ajudar, não a conquistar uma medalha de ouro, prata ou bronze, mas como diz São Paulo, aquela “coroa imperecível que o Justo Juiz um dia nos dará”.

 

Fonte: Vatican News