Durante sua viagem à Hungria, o Santo Padre se encontrou com companheiros de congregação; conteúdo do encontro foi publicado nesta terça-feira, 9
Juventude, amizade, caridade, sabedoria. Muitos foram os conselhos dados pelo Papa aos jesuítas com os quais se encontrou durante sua viagem à Hungria no sábado, 29. O encontro privado teve seus diálogos registrados pelo padre Antonio Spadaro, que publicou um artigo sobre a conversa com Francisco na revista La Civiltà Cattolica, publicação internacional jesuíta com mais de 150 anos de história, nesta terça-feira, 9.
O Santo Padre chegou à Nunciatura, onde já era esperado por 32 membros húngaros da Companhia Jesuíta, por volta das 18 h do horário local. Após cumprimentar a maioria dos presentes, um a um, e ser recebido pelo provincial, padre Attila András, o Papa respondeu às perguntas dos religiosos.
Ao comentar sobre o motivo que o levou à Hungria, Francisco disse: “a razão é que na primeira vez tive que ir à Eslováquia, mas o Congresso Eucarístico estava acontecendo em Budapeste, então só pude passar algumas horas. Prometi a mim mesmo voltar, e voltei”.
O Pontífice também foi questionado sobre como lidar com os jovens. “Testemunho” e “autenticidade” foram apresentadas como palavras-chave, mas também “clareza”, “amabilidade”, “fraternidade” e “paternidade”. Isso porque o testemunho traz coerência de vida, e os jovens anseiam por essa autenticidade. Neste sentido, o Papa citou também o diálogo entre jovens e idosos: “lembrem-se da profecia de Joel: os velhos terão sonhos e os jovens serão profetas. A profecia de um jovem nasce de uma relação terna com os idosos”.
O Evangelho pede para amar
A questão seguinte foi sobre abusos sexuais e o amor cristão. “O Evangelho nos pede para amar, mas como amar, ao mesmo tempo, as pessoas que sofreram abusos e seus agressores”? Francisco logo comentou que esta era uma pergunta muito forte, e explicou que a empatia com o sofrimento das vítimas leva a esse desafio. “O abusador deve ser condenado, sem dúvida, mas como irmão. Uma sentença entendida como um ato de caridade. (…) Eles merecem punição, mas também cuidado pastoral”, expôs.
Na sequência, perguntaram ao Papa sobre sua relação com o padre Ferenc Jálics, preso pelo regime militar argentino em 1976, quando Bergoglio era chefe provincial dos jesuítas. Ao responder, Francisco enfatizou que Jálics e também Orlando Yorio, outro sacerdote jesuíta, atuavam em um bairro onde ficava uma célula guerrilheira, mas que nenhum dos dois estava envolvido com ela. “Eram pastores, não políticos”, declarou.
“Quero acrescentar que quando Jálics e Yorio foram presos pelos militares, a situação na Argentina era confusa e não estava nada claro sobre o que deveria ser feito. Fiz o que senti que tinha que fazer para defendê-los. Foi uma situação muito dolorosa”, completou o Santo Padre. Bergoglio e Jálics se encontraram outras vezes após o fim do regime militar, e até celebraram juntos uma Missa como sinal de “reconciliação”.
Igreja no presente e no futuro
O Concílio Vaticano II também foi um tema abordado. Quando questionado sobre como conciliar a Igreja com o que há de moderno, o Pontífice afirmou que o Concílio ainda está em vias de aplicação, mas sabe que há resistências e um “restauracionismo” terrível. Afinal, o retrocesso não conserva a vida.
“O perigo hoje é o indietrismo, a reação contra o moderno. É uma doença nostálgica. Esta é a razão pela qual decidi que doravante a concessão de celebrar segundo o Missal Romano de 1962 seria obrigatória para todos os sacerdotes recém-consagrados. Depois de todas as consultas necessárias, fiz porque vi que essa medida pastoral, bem feita por João Paulo II e Bento XVI, estava sendo usada ideologicamente, para voltar atrás”, explicou.
Por fim, um dos religiosos partilhou que sua ordenação sacerdotal aconteceria em três semanas e pediu conselhos para um padre recém-ordenado. O Pontífice lhe disse que jamais desse às costas aos mais velhos, e falou sobre como seus superiores o formaram bem e como era grato por isso. Finalizou a reunião cumprimentando aqueles que não conseguiu ao chegar na nunciatura e tirando uma foto em grupo.
Fonte: Canção Nova