
Foto: gunther simmer macher – PIXABAY
“Meu São Francisco” é o livro póstumo de Jorge Mario Bergoglio – o Papa Francisco– que será lançado em 18 de setembro. A publicação inclui uma carta do Papa Leão XIV, em que ele recorda seu predecessor, falecido em 21 de abril passado: o livro “permite quase ouvir novamente a voz do Papa Francisco” e nós “agradecemos ao Senhor pelo que Ele nos deu através dele”.
A publicação é fruto de uma conversa ocorrida nos últimos meses de 2024 com o prefeito do Dicastério das Causas dos Santos, Cardeal Marcello Semeraro. O texto (Edizioni Messaggero Padova, pp.160), que também contém um prefácio do secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, retrata o profundo vínculo entre o Papa Francisco e o santo de Assis, de quem escolheu o nome.
Na carta datada de 22 de maio, Leão XIV agradece ao Cardeal Semeraro por esta publicação e destaca que Francisco não apenas “assumiu” esse nome, “mas também procurou se identificar com ele para torná-lo o rosto de sua nova missão”. Além disso, no texto, escrito um mês após o falecimento de Bergoglio, Prevost sublinha que “ainda não desapareceu do nosso ânimo o efeito provocado” por sua morte, tema que também é abordado no livro. O Papa cita uma resposta do Papa argentino à pergunta se ele tinha medo de morrer: “Quando se é idoso, percebe-se que não falta muito para o fim, e então torna-se também uma graça poder se preparar para a morte, poder reler o próprio passado agradecendo ao Senhor por tudo o que nos deu”.
Os traços de São Francisco na vida de Bergoglio
O prefácio da obra é escrito pelo Cardeal Parolin, que explica a relação do Papa Bergoglio com São Francisco. “Quando nos afeiçoamos a um santo é porque o descobrimos como amigo e fonte de inspiração” para “viver com alegria o Evangelho” e “foi assim que aconteceu com o Papa Francisco” em relação ao Pobrezinho de Assis, escreveu o purpurado.
Para Parolin, a influência deste santo sobre Jorge Mario Bergoglio é visível “nas entrelinhas de sua existência, em seu comportamento, em suas escolhas preferenciais, em seus afetos e desejos, e também nos encontros e fatos que ele viveu”. No livro, o Papa Francisco relembra vários momentos e experiências vividas em sua vida e “parece quase saborear novamente os traços abençoados que o exemplo de São Francisco deixou em sua alma, ajudando-o a ser um pouco como ele, tão grato ao Senhor e desejoso de descobri-Lo presente nos pobres, de amá-Lo naqueles que sofrem e estão sozinhos”.
O secretário de Estado Vaticano observa que esse “testemunho” obtido nos últimos meses de vida de Francisco é quase “um seu ‘testamento espiritual’ feito de memórias vivas e ações de graças”. “O olhar luminoso e sereno” do Papa, nos últimos dias de sua vida, parece também “estar em sintonia” com a alegria e a gratidão a Deus que o santo de Assis expressou quando já estava perto do fim de sua vida.
São Francisco, uma chave interpretativa do pontificado
O livro estará disponível nas livrarias a partir de 18 de setembro e foi apresentado, na tarde desta quarta-feira, 10, em Assis, na Sala de Imprensa do Sacro Convento. Durante a coletiva de imprensa, o cardeal Semeraro reiterou que “o Papa Francisco introjetou a figura do santo de Assis” e isso se refletiu tanto no estilo com que conduziu seu pontificado, quanto na maneira como enfrentou as situações. “A santidade de São Francisco pode ser uma chave interpretativa do ministério petrino” de Jorge Mario Bergoglio.
O cardeal citou como exemplo as várias encíclicas escritas pelo Pontífice e inspiradas pelo Pobrezinho de Assis, como a Laudato Si’ e a Fratelli tutti, explicando que o livro também aborda temas como o diálogo com o Islã e outras religiões e o cuidado da criação. Semeraro mencionou também a insistência do Papa Francisco em observar o mundo a partir das periferias, “dos descartados”, e em promover uma “Igreja em saída” como um comportamento de “estilo franciscano”, porque leva a compreender a realidade a partir de uma perspectiva diferente. O Papa “de certa forma mostrou a figura de Francisco de Assis como uma orientação para a Igreja de hoje”, disse o cardeal.
O compromisso com a paz e as reflexões sobre a morte
O chefe do Dicastério insistiu ainda no compromisso com a paz de Francisco, levado adiante com o mesmo sentimento por Leão XIV. “Ambos disseram que esta situação de derrota não deve nos desencorajar de falar de paz. Ambos usaram a imagem da semente: quando falamos de paz, lançamos sementes que devem entrar no coração do homem, confiando que germinarão”, sublinhou o cardeal.
Por fim, em resposta à pergunta se havia algum elemento do texto que lhe fosse particularmente querido, o cardeal afirmou que ainda o “comove” o fato de o livro falar sobre envelhecer e se preparar para a morte. E acrescentou que em 2024, ano em que o livro foi escrito, ele não poderia imaginar que, no ano seguinte, uma semana depois de saber que os rascunhos estavam prontos, Francisco morreria. “No livro, ele também falou sobre isso: estar disposto a deixar e restabelecer as relações para viver em paz”.
Fonte: Canção Nova