A publicação do documento Mater Populi Fidelis, do Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovado pelo Santo Padre, oferece à Igreja uma oportunidade singular de aprofundar a compreensão da devoção mariana e do lugar de Maria no desígnio de Deus para nossa salvação.

Nossa Diocese, marcada por uma viva e profunda piedade mariana – expressa nas romarias e santuários de Nossa Senhora da Abadia do Muquém e Nossa Senhora da Penha de Guarinos, e nas diversas comunidades que honram a Mãe de Deus sob tantos títulos – deseja acolher este documento com espírito de comunhão e fé.

Com esta nota, queremos oferecer aos fiéis uma leitura fiel, clara e serena, que ajude a iluminar a doutrina já existente e a fortalecer a unidade entre fé e piedade, razão e amor.

Mater Populi Fidelis recorda uma verdade sempre proclamada pela Igreja: Maria tem um lugar singular na história da redenção. Esse lugar se compreende à luz de Cristo. Toda graça vem de Deus; toda salvação brota da entrega do Filho; e Maria é a criatura que melhor acolheu este dom santo.

Por isso, a Igreja contempla Maria como Mãe na ordem da graça (Mater Populi Fidelis): Ela é Mãe do Redentor, Mãe da Igreja e Mãe dos fiéis. Sua missão materna resplandece porque Deus é sempre o autor da graça e o primeiro a agir. Maria acolhe plenamente essa ação divina e, com amor de mãe, aponta seus filhos para a fonte da vida. Toda a grandeza de Maria nasce da graça recebida e acolhida com liberdade e fé.

O livro Maria, Mãe da Redenção, de Edward Schillebeeckx, recorda que Maria é a primeira a viver de modo pleno a redenção, tornando-se modelo do que Deus deseja realizar em todos os fiéis.

No livro Dogmática Católica, o Cardeal Gerhard Müller destaca que a graça concedida a Maria não é apenas pessoal, mas voltada para toda a comunidade dos crentes.

E Karl-Heinz Menke, no livro “Fleisch geworden aus Maria” (Feito carne em Maria), lembra que tudo em Maria remete ao mistério da Encarnação: o Filho eterno tomou a nossa carne a partir dela, e por isso sua vocação está sempre referida a Cristo.

Maria acompanha a Igreja com amor de mãe. Sua intercessão é discreta, humilde e confiante – expressão da sua profunda união com Cristo.
Ela continua dizendo aos discípulos, como em Caná: “Fazei o que Ele vos disser.” (Jo 2,5)

A verdadeira devoção mariana não divide, mas conduz mais intensamente a Cristo. Não substitui o Salvador; aprofunda o encontro com Ele. Não cria paralelos, mas reforça o centro da fé cristã.

É por isso que o Mater Populi Fidelis orienta a Igreja a empregar palavras que expressem com mais clareza esta verdade. Não se trata de diminuir Maria, mas de permitir que sua missão brilhe ainda mais na sua forma mais bela: ser Mãe, guia e intercessora dos fiéis.

A piedade mariana de nossa Diocese é um dom precioso de Deus. As romarias, as novenas, as comunidades dedicadas a Maria e a oração simples do povo expressam uma fé que nasce do Evangelho e que encontra em Maria um caminho seguro para Cristo.

Cuidar da linguagem não enfraquece essa devoção; antes a fortalece. Recordar que tudo em Maria é graça recebida não diminui sua importância; mas evidencia a grandeza que Deus realizou nela.

A clareza doutrinal torna ainda mais firme a confiança do povo e evita confusões que, muitas vezes, obscurecem a beleza da fé. O Mater Populi Fidelis é um convite a redescobrir a profundidade e a ternura da maternidade de Maria. É um chamado para olharmos para a Mãe do Senhor com renovado amor e deixarmos que a luz de Deus, que nela resplandece, ilumine o nosso caminho.

“A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.” (Lc 1,46-47)

Honrar Maria é celebrar a obra de Deus nela.
Amá-la é deixar-se conduzir ao Filho.
Invocá-la é abrir o coração ao Espírito Santo, que continua a renovar a Igreja e a vida dos fiéis. Imaculado Coração de Maria, rogai por nós.

Uruaçu, 12 de novembro de 2025

Dom Giovani Carlos Caldas Barroca

Bispo Diocenano de Uruaçu

 

Fonte: Diocese de Uruaçu