“A vida consagrada requer ousadia e precisa de pessoas idosas que resistam ao envelhecimento da vida, e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma”: foi o que disse o Papa Francisco recebendo no final da manhã de quinta-feira (09/09), na Sala Clementina, no Vaticano os cerca de 100 membros do Capítulo Geral dos Missionários filhos do Coração Imaculado da B.V. Maria (Claretianos).
Depois de expressar sua alegria em acolher os membros do Capítulo Geral, do qual participam irmãos missionários provenientes de todo o mundo, representando os cerca de 3 mil claretianos que formam o Instituto Francisco, falando em espanhol, felicitou o padre Mathew Vattamattam, pela sua reeleição e os demais integrantes do novo governo.
Citando o tema do Capítulo “Enraizados e ousados”, o Santo Padre afirmou que “enraizados em Jesus” pressupõe uma vida de oração e contemplação que os leve a poder dizer como Jó: “Eu te conhecia apenas por rumores, mas agora meus olhos te viram” (Jb 42,5). Uma vida de oração e contemplação que lhes permita falar, como amigos, face a face com o Senhor (cf. Ex 33,11). Uma vida de oração e contemplação que os permita contemplar o Espelho, que é Cristo, para que vocês também se tornem um espelho para os outros.
Francisco disse em seguida aos claretianos: “vocês são missionários, se querem que sua missão seja verdadeiramente fecunda, não podem separar a missão da contemplação e de uma vida de intimidade com o Senhor. Se querem ser testemunhas, não podem deixar de serem adoradores. Testemunhas e adoradores são duas palavras que estão no coração do Evangelho: “Ele os chamou para estarem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3:14). Duas dimensões que se alimentam mutuamente, que não podem existir uma sem a outra.
“O filho do Coração Imaculado de Maria é uma pessoa que arde de caridade e por onde passa queima”, dizem suas Constituições Gerais, afirmou o Papa citando o Padre Claret (n. 9). Deixem-se queimar pelo Senhor, por seu amor, de tal forma que possam ser incendiários por onde passam, com o fogo do amor divino. Que Ele seja sua única segurança. Citando mais uma vez as Constituições acrescentou o Papa: “Não se deixem intimidar por nada”.
Não tenham medo de suas fragilidades; tenham medo, sim, de cair na “esquizofrenia” espiritual, na mundanização espiritual que os levaria a confiar apenas em suas “carruagens” e “cavalos”, em suas forças, e a acreditar que você é o melhor, a buscar obsessivamente o bem-estar e poder (cf. Evangelii Gaudium, 93). Não se acomodem – continuou o Papa – a esta lógica mundana que fará com que o Evangelho, que Jesus, deixe de ser o critério orientador de suas vidas e de suas escolhas missionárias. Não se pode conviver com o espírito do mundo e pretender servir ao Senhor. Orientem sua existência com base nos valores do Evangelho. Nunca utilizem o Evangelho de forma instrumental, como uma ideologia, mas sim como um vade-mécum, deixando-se guiar a todo momento pelas escolhas do Evangelho e pelo desejo ardente de “seguir Jesus e imitá-lo na oração, na fadiga e na busca constante da glória de Deus e da salvação das almas” (Pe. Claret).
Esta orientação – disse ainda o Papa – os tornará audazes na missão, como audaz foi a foi a missão do padre Claret e dos primeiros missionários que se uniram a ele. A vida consagrada exige audácia e precisa de pessoas idosas que resistam ao envelhecimento da vida, e de jovens que resistam ao envelhecimento da alma.
Esta convicção os levará a sair, a partir e ir onde ninguém quer ir, onde a luz do Evangelho é necessária, e a trabalhar lado a lado com o povo. Sua missão não pode ser “à distância”, mas de vizinhança, proximidade.
Que a Palavra e os sinais dos tempos nos sacudam de tanta lentidão e de tantos medos que, se não estivermos atentos, nos impedem de estar à altura dos tempos e das circunstâncias que reclamam uma vida consagrada audaz e corajosa, uma vida religiosa livre, libertada e libertadora da nossa precariedade.
Espero, caros irmãos, que este Capítulo, que vocês estão prestes a concluir, os ajude a concentrar-se no essencial: Jesus, a colocar a sua segurança Nele e só Nele que é todo bem, o sumo bem, a verdadeira segurança.
Francisco concluiu seu discurso agradecendo aos claretianos por todo o trabalho apostólico e toda a reflexão sobre a vida consagrada realizados durante estes anos. Continuem, e que o Espírito os guie nesta nobre tarefa.