Oração, Jejum e esmola. Conversão e Submissão ao Senhorio de Jesus. Comunhão e misericórdia. Essas palavras poderiam resumir o caminho que iniciamos hoje por meio do rito das cinzas sobre nossas frontes. O período quaresmal. Descendo às profundezas do nosso interior, podemos descobrir muito do que precisamos mudar. Papa Francisco nos dá pistas para isso:
Nesta Quaresma, Deus pede-nos que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades. Perguntemo-nos diante do Senhor se somos capazes de trabalhar juntos ao serviço do Reino de Deus, como bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos; se, com gestos concretos, temos uma atitude acolhedora em relação àqueles que se aproximam de nós e a quantos se encontram distantes; se fazemos com que as pessoas se sintam parte da comunidade ou se as mantemos à margem […] (Mensagem Papa Francisco, Quaresma 2025)
«A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?» ( 1Cor 15, 54-55)
A quaresma é oportunidade de escuta e avaliação para compreender a hora escura da Sexta-Feira Santa (na vida de NSJC e na nossa vida também). Isso se dá por meio da oração. Na oração somos capazes de VERIFICAR aquilo que o papa nos pediu no texto acima. Como cristãos, se não aprendemos a rezar, nosso cristianismo é inútil. Sei rezar? Existe oração na minha vida? A oração é recuperar uma visão de conjunto da própria vida. Assim como se faz diante de uma obra de arte. A nossa vida não se resume em um único ponto, em um único momento, uma dúvida, um sofrimento, problema etc. Para enxergar melhor nossa própria vida, é preciso tempo, atenção, ‘distância’ dos fatos sentidos, e escuta espiritual, vida interior. Isso acontece por meio da oração. Só assim conseguimos enxergar as coisas a partir de outro ponto de vista, o ponto de vista de Deus.
Rezar é uma ‘escalada’; não é simples, não é sentimento… exige muito. O Senhor nos ensina a rezar. Ele rezava no coração da noite; rezava ‘sonhando’ sobre o barco entre as ondas agitadas; rezava enquanto suava sangue; rezava enquanto sangrava na cruz… E quando ele rezava, ele transfigurava. Rezar nos mergulha na Luz. Riscos de uma oração falsa: recordemos que quando os discípulos foram viver algo difícil, dormiram. Pensemos no Getsemani. É um clima depressivo; o depressivo deseja apenas dormir…se possível sem acordar. No final, ficamos anestesiados por tantas coisas, por tantos solilóquios que ficamos ‘adormecidos’ diante da voz de Deus. Acabamos tentados a fugir do confronto com a gente mesmo. Tantas vezes fugimos do nosso ‘confronto pessoal’ por meio da imersão absurda nas coisas da vida, coisas ruins (celular, redes sociais…) até a coisas normais (nossas próprias funções, até mesmo a parte superficial dos nossos atos de piedade). Nessa hora não falamos coisa com coisa. Chegamos ao absurdo de querer que Deus realize, decida e transforme as coisas que na verdade somos nós que devemos realizar, decidir e transformar! E acabamos chateados com Deus. Rezar bem, nos torna amigos de Deus! A verdadeira oração nos submerge na luz e só assim conseguimos enxergar com os olhos de Deus. Enxergar com os olhos de Deus o que nós somos! Eis o caminho para a conversão!
…apelo à conversão: o da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna. Devemos perguntar-nos: estou convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás? (Mensagem Papa Francisco, Quaresma 2025)
Jesus fundou sua Igreja sobre um traidor arrependido! Não caiamos na tentação de fugir do olhar de Deus por causa dos nossos erros e defeitos. Deixemo-nos converter pelo Senhor! Trilhemos esse caminho quaresmal com a esperança de que o Senhor terminará a obra iniciada em nossas vidas!
Pe. Delton Filho Quaresma 2025, Rialma.