Quando pensamos em Vocação precisamos pensar também em felicidade. Eu e você temos o direito de sermos felizes. Nós não nascemos para a tristeza. Nascemos para a alegria. A tristeza é um erro de percurso e um veneno para a alma: “Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. Pois a tristeza matou a muitos!” (Eclo 30,22. 25). “Ao contrário, a vontade de Deus é que sejamos alegres: Alegrai-vos sempre no Senhor, repito Alegrai-vos!” (Fl. 4,4).

Mas, como ser feliz num mundo tão conturbado? Como viver alegre se as situações da vida e os problemas do cotidiano nos preocupam tanto? A felicidade não cai do céu; é fruto de uma conquista e conseqüência de decisões acertadas! Isso reside no discernimento da própria vocação! A palavra Vocação vem do latim Vocare e significa: Chamado. Um chamado que exige resposta. O chamado é feito por parte de Deus. É Ele quem toma a iniciativa. “Antes que no seio fosses formado eu já te conhecia e já te havia designado profeta das nações! (Jer 1,5).”

A iniciativa é sempre de Deus. Ele chama porque ama! Quando Deus chama, sua ‘voz’ cria a nossa realidade. Ao pronunciar o teu nome, desde toda a Eternidade, o Senhor te criou para algo específico e realizador. Teus pais contribuíram com o material genético, mas foi de Deus que “saiu” a tua alma. Ao longo de todos estes anos, com o auxílio e carinho de tua família, você foi amadurecendo até tomar consciência de que sua origem não é meramente material e teu destino não é simplesmente o desfecho natural da matéria criada.

Talvez o entendimento disso seja fruto de uma lógica muito simples: se as coisas deste mundo nunca nos satisfazem totalmente (nunca encontrei um milionário completamente feliz!), isto indica que fomos feitos para algo que não reside na matéria nem se deteriora no nosso tempo. O primeiro chamado que Deus nos faz é à existência. Em seguida o Senhor nos chama à Santidade. A realização desse desígnio – a santidade – acontece num contexto preciso. É aqui que devemos escutar com atenção qual é a vontade de Deus. É sempre mais sábio optar por aquilo que é plano de Deus do que o que pensamos para nós mesmos. Quantas vezes você planejou, decidiu e no fim viu que não era a coisa certa?

Aquele que nos criou sabe exatamente para quê fomos feitos. Não pense que tua missão nesta terra é simplesmente igual à dos que você conhece. Ouvi uma religiosa afirmar que a descoberta de sua vocação se deu quando ela decidiu que não queria viver como todo mundo: nascer, crescer, se casar, se reproduzir e morrer. O itinerário existencial não pode apenas seguir a ‘natureza’. Mesmo que sua vida siga esse itinerário (nascer, crescer…morrer), cada um deve viver sua vida de forma que ela se torne o que é: única, irrepetível, intransferível e transformadora! É preciso florescer onde Deus nos plantou.

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Para isso é preciso um sério discernimento vocacional. A vocação é como um fio vermelho escondido num bosque. É preciso encontrar a ponta e ir seguindo, palmo a palmo em direção ao final da linha. Algumas pessoas da Bíblia tiveram a chance de ouvir clara e diretamente o chamado de Deus (Chamado Direto): Abraão, Noé, Samuel, Virgem Maria. Outros tiveram de discernir a Vontade de Deus (chamado indireto): São João Paulo II, eu e você! Em muitos casos é vantajoso o fato de que Deus não nos tenha dito tudo claramente de uma só vez. Se Deus te disser com todas as letras o que Ele quer de você, e mesmo assim você se negar, seria um pecado muito grave.

Não se trata de exaltar o ‘benefício’ da dúvida. Trata-se apenas de ressaltar que precisamos de muita humildade para compreender as confirmações que Deus jamais nega àqueles que as pedem. Todavia, tais confirmações se fazem ver apenas enquanto estamos a caminho. O Senhor não vai confirmar a vocação para quem está parado e de braços cruzados. Neste processo é recomendável um bom diretor espiritual. O diretor espiritual precisa ser uma pessoa de confiança e com capacitação (santidade, sabedoria e inteligência) para respeitar tua liberdade e ser voz de Deus para tua vida. Peça a Deus que te mostre essa pessoa. Em seguida, obedeça-a com a tranqüilidade de consciência.

A plena maturação da nossa identidade mais íntima e a realização mais completa da nossa existência reside na busca pela santidade. A Igreja enuncia inúmeros homens e mulheres que servem de exemplo nesta busca. Não se trata de homens com ‘super-poderes’ ou intelectualmente superiores. Não são pessoas diferentes de nós. São gente como a gente. Pessoas que enfrentaram situações iguais ou piores às que enfrentamos hoje. Aprenderam com as provações e tentações. A busca pela santidade, porém, não pode ser incitada a não ser por obra de Deus. “É Ele quem opera em nós o querer e o operar!” (cf. Fl. 2,13). É obedecendo com docilidade à inspiração de Deus, abraçando o ‘chamado’ que Ele nos faz, que trilhamos a santidade e saboreamos a felicidade.

Seja qual for o passo que você queira dar, decida-se com vontade férrea. O que tiver de fazer, faça bem feito. Isso é um modo de imitar Jesus que sempre fez bem-feito tudo o que podia. Ele era assim! É por isso que podemos afirmar que maturidade é sinônimo de santidade! Jesus Cristo era tão maduro que no derradeiro dia, prestes a entregar-se nas mãos do Pai Celeste, afirmou: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30). Que êxito! Os seus 33 anos bem vividos. Não faltava nada! Tudo foi ‘bem’ feito. Não deixou as coisas ‘pela metade’. Não precisou de nem ‘um’ dia a mais. Nem mesmo um minuto além dos que lhe foram dados. Tudo consumado! Bem diferente de algumas pessoas que chegam ao final da vida com ‘tudo consumido’.

Se for preciso (e sempre é!), faça renúncias, discipline-se para ser fiel, comprometa-se realmente com aquilo que, de fato, pode lhe fazer realmente feliz!

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