“Quando, pois, chegou a hora em que por vós, ó Pai, ia ser glorificado, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Enquanto ceavam, ele tomou o pão, deu graças, e o partiu e deu a seus discípulos, dizendo: TOMAI, TODOS, E COMEI: ISTO É O MEU CORPO, QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS. Do mesmo modo, ele tomou em suas mãos o cálice com vinho, deu graças novamente e o deu a seus discípulos, dizendo: TOMAI, TODOS, E BEBEI: ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA ALIANÇA, QUE SERÁ DERRAMADO POR VÓS E POR TODOS, PARA A REMISSÃO DOS PECADOS. FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM” (Oração Eucarística IV).
Este é um trecho das orações da Igreja Católica pronunciado na Missa. Ele nos traz as palavras de Jesus Cristo pronunciadas por ele na Última Ceia quando ele nos deixou o memorial da eterna aliança: a Eucaristia. Nosso Senhor confiou este augusto sacramento a sua Igreja mediante os Apóstolos. Eles fielmente transmitiram esta graça até chegar a nós. Deste modo, mostra-se como a Igreja compreendeu a ordem do bom Mestre: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).
Não se pode dizer com precisão se desde o primeiro dia, após a ascensão do Senhor, a primitiva comunidade cristã celebrou a Eucaristia. Todavia, vários versículos bíblicos e extra bíblicos testemunham os cristãos reunidos para a “fração do pão”, outro nome dado a Eucaristia. Este fato decorre nas primeiras décadas da Igreja nascente. Outro aspecto importante é o nível de compreensão do que faziam. Tudo era muito novo. O Espírito Santo pouco a pouco ensinava aos cristãos todas as coisas (cf. Jo 14,26). Contudo, é certo que os primeiros cristãos seguiram a ordem de Jesus: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19).
O testemunho mais antigo que temos da Eucaristia se encontra em 1Cor 11,23-25, escrito por volta do ano 55. Os relatos dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos foram escritos a partir dos anos 60. São Paulo, em Trôade (ano 53), fala da reunião, no primeiro dia da semana, para o partir o pão (cf. At 20,7). O pequeno catecismo cristão, a Didaqué, redigido no final do séc. I ou início do séc. II) diz: “reuni-vos no dia dominical do Senhor para a fração do pão e agradecei (celebrai a eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo tempo será oferecido a meu nome um sacrifício puro, porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre todos os povos’ (Mal 1,11.13)” (Didaqué, 14).
Por conseguinte, ligando o início da Igreja ao dia de hoje, atestamos a fidelidade católica para com a Eucaristia. Quanto temos a agradecer ao Espírito Santo por ter sustentado os fieis nesta santa tradição! Graças a este fato, Cristo, todo inteiro, chegou também a nós: seu corpo e seu sangue, alma e divindade. Este não é um dom. É o dom por excelência. É o dom dos dons porque é Deus mesmo dado a nós (cf. Ecclesia de Eucharistia, 11).
Desta maneira, mediante o sacerdote, em vários lugares da terra, seja nos templos ou nas cadeias, seja embaixo de uma árvore ou no alto de uma montanha, a qualquer hora do dia, pela ação divina, acontece o milagre diário: a Eucaristia, atualização da Páscoa do Senhor: sua paixão que nos salva, sua gloriosa ressurreição e ascensão ao céu. Mesmo que você não esteja agora participando da Eucaristia, mas em algum lugar ela está acontecendo e as graças divinas se estendem por toda a terra, logo, chegam a você também.
Todas as vezes que a Igreja faz isso, ela anuncia a morte e ressurreição do Senhor. O que isto significa? É Jesus Cristo nos salvando aqui e agora. É o que nos ensina são João Paulo II: “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e ‘realiza-se também a obra da nossa redenção’. Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. Esta é a fé que as gerações cristãs viveram ao longo dos séculos, e que o magistério da Igreja tem continuamente reafirmado com jubilosa gratidão por dom tão inestimável. É esta verdade que desejo recordar mais uma vez, colocando-me convosco, meus queridos irmãos e irmãs, em adoração diante deste Mistério: mistério grande, mistério de misericórdia. Que mais poderia Jesus ter feito por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao ‘extremo’ (cf. Jo 13, 1), um amor sem medida” (Ecclesia de Eucharistia, 11).
Compreendendo esta verdade de fé, o cristão sabe onde e quando encontrar água para sua sede de paz, comida para sua fome de amor e vida feliz sem fim; em uma palavra: vida em abundância. É na Eucaristia celebrada em sua comunidade diariamente ou aos Domingos, nos lugares de costume; ou na Celebração da Palavra com a comunhão eucarística. Esta verdade é tão clara e vital a ponto de são João Paulo II afirmar: “a Igreja vive da Eucaristia”, esta é a síntese do “núcleo do mistério da Igreja” (Ecclesia de Eucharistia, 1).
O milagre diário da Eucaristia ultrapassa os confins da celebração e acontece também de outra forma. O “fazei isto em memória de mim” de Jesus Cristo se concretiza de modo semelhante em cada cristão quando ele se coloca a serviço de alguém. Eucaristia é amor pleno ou dom total de Deus a nós. Este amor recebido é transbordado como amor ao próximo. Quando uma pessoa, movida pela graça divina, vive esta realidade ela está tornando presente, não como sacramento, o amor divino. É a memória de Cristo além do culto ou a eucaristia celebrada transformada em eucaristia vivida. Trata-se do milagre diário da caridade.
Enfim, a Eucaristia é Deus entre nós. É um “estar-aí” contínuo em permanente doação para a vida das pessoas. Para um mundo que vive uma guerra mundial a pedaços, reflexo da guerra interior do coração de homens e mulheres, não seria a Eucaristia, celebrada e vivida, o milagre diário mais necessário e urgente para todos os tempos?
Pe. Francisco Agamenilton Damascena
Vigário paroquial da Paróquia N. Sra. das Graças, Rialma – GO