A vida da Virgem Maria está profundamente mergulhada nos mistérios da vida de Seu Filho Jesus Cristo. Contemplar cada momento da vida de Maria é entrar no mistério de Deus que se fez carne e veio habitar no seu ventre. Ela está toda inteira escondida e recapitulada em Jesus Cristo. Uma de suas marcas mais evidentes é a confiança em Deus, Naquele que operou maravilhas em seu favor (Lc 1, 49). Ela foi a mulher feliz que acreditou naquilo que Deus lhe revelou (Lc 1, 45). Em três momentos da obra salvífica, a confiança de Nossa Senhora nos planos transcendentes de Deus se torna ainda mais real: na Encarnação, Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo, o Verbo de Deus.
O evangelista Lucas nos traz a notícia de que “o Anjo, porém, acrescentou: ‘Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás em seu seio e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo…” (Lc 1, 31-32). Maria foi agraciada por Deus Pai para ter o ventre habitado pelo Verbo Divino, para ser a Mãe do Salvador da humanidade. Ela era uma jovem simples e pobre de Nazaré, de descendência humilde e pouco conhecida naquela região, mas com um coração inigualável em pureza e disposição para fazer a vontade do Senhor. Diante do anúncio que o mensageiro de Deus trouxe aos seus ouvidos e coração, ela confiou nos planos e promessas do Deus de Israel (Lc 1, 55), ela creu mesmo diante do desconhecimento de tudo o que viria a acontecer. Maria não compreendia tudo o que lhe acontecia naquele momento, não porque Deus falhava com ela, mas porque o fato era grandioso para ser compreendido num único instante. Ela tocou o Verbo de Deus através de sua confiança, quando de seus lábios pronunciava o “faça-se em mim segundo tua palavra” (Lc 1,38). Belíssimo movimento: do verbo pronunciado por Maria ao Verbo Encarnado de Deus. Deus visitou a humanidade através da confiança de uma simples e nobre mulher.
A encarnação do Verbo levou Maria, alguns anos depois, aos pés da Cruz. Deus se fez totalmente Deus no coração daquela serva, mesmo quando a espada de dor perpassou sua alma e seu coração (Lc 2, 35). Os caminhos de Jesus se tornaram os seus caminhos, sua estrada e seu norte. Os olhos de Maria estavam centrados em Jesus, desde a manjedoura até o alto do Calvário, mas não são olhos quaisquer, são os olhos da Mãe da confiança e da esperança. A confiança de Nossa Senhora em Deus não se refletia apenas nos momentos alegres que a maternidade lhe proporcionava, mas também na dureza da Cruz, na sensação de abandono sentido por Cristo no alto do madeiro, na hora do grito de dor dirigido ao Pai, quando Ele tinha seu corpo dilacerado, quando carregava os pecados da humanidade como um malfeitor, no momento em que fora deitado em seu colo materno. As mãos e o colo que aconchegaram e acariciaram o menino Jesus na noite do Natal agora tocam e acolhem o corpo ferido pelos duros golpes sofridos. Maria conseguiu olhar além do corpo ferido pela crueldade dos soldados, além da condenação injusta e odiosa tramada pelas autoridades judaicas… ela enxergou o que ninguém conseguiu enxergar. Somente quem tem um coração confiante em Deus pode passar o que ela passou, pode viver o calvário como ela viveu. A Virgem Mãe “foi crucificada” com Jesus Cristo, mas venceu o pecado e morte quando não se deixou levar pela “tentação da serpente”, fazendo apenas o que agradava ao Senhor. Ela esperou contra todo desespero. Como diz Bento XVI[1], “crer nada mais é do que, na escuridão do mundo, tocar a mão de Deus e assim – no silêncio – escutar a Palavra, ver o Amor.” Estar aos pés da cruz é vivenciar esta fé, é tocar Deus em Seu infinito amor.
O que fez a Virgem Maria passar por esse momento com tamanha constância e exemplar fidelidade foi sua confiança na Ressurreição. Este fato não foi uma novidade absoluta para ela, pois ela conhecia com profundidade o Filho que foi gerado em seu ventre, por isso confiava nas Suas mesmas palavras que ao terceiro dia ressuscitaria (Mt 17, 23). Ela superou toda a dor da Cruz porque sua confiança e fé levaram-na à certeza de que Seu Filho estava vencendo o poder do mal, derrotando o antigo vencedor (Gn 3). Neste sentido, Bento XVI[2] afirma que “o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho”. A certeza da ressurreição e da vitória de Cristo justificaram a via crucis realizada por Nossa Senhora. Era quase impossível ela desistir, pois sua fé lhe assegurava fazer confiantemente o caminho do Calvário. Maria foi a única a enxergar a luz da vida nos olhos açoitados de Jesus, ela “viu” o sepulcro vazio mesmo quando rolaram a pedra e o colocaram lá dentro, o rosto de Jesus brilhava nos olhos confiantes de Sua Mãe, ela nunca procurou entre os mortos Aquele que estava vivo, ela foi bem-aventurada porque creu sem ter visto e sem ter tocado na ferida aberta pela lança.
Cabe a nós, filhos de Nossa Senhora, recorrermos a ela com confiança. As suas atitudes de fé e esperança nos impulsionam a crer que Deus nunca nos desampara, ele tudo sabe e tudo governa providencialmente. Que façamos o caminho de confiança da Virgem Maria. Que depositemos nela nossa confiança filial na certeza de que ela nos guardará, nos protegerá e nos apontará o caminho de Jesus. Quem confia em tão augusta Mãe nunca será desemparado. Confiar em Maria é abrigar-se em seu Imaculado coração.
Pe. Franciel L. da Silva
Formador / Seminário Nossa Senhora de Fátima
Brasília – DF
[1] Livro “Bento XVI, o último testamento”
[2] Encíclica Spe Salvi, n.1