Papa a menores infratores: olhar de Deus não vê rótulos, mas filhos

O Papa Francisco iniciou as atividades na manhã desta sexta-feira (25/01), terceiro dia da sua viagem ao Panamá, com uma visita ao Centro de Reabilitação de Menores “As Garças”, em Pacora, situado a cerca de 40 quilômetros da capital panamenha. A penitenciária, que acolhe 192 menores, é considerada um exemplo para o país, porque oferece aos jovens detidos um percurso de integração social integral, mediante um caminho educativo, familiar, sanitário e de formação profissional e humana.

O Papa presidiu uma liturgia penitencial no local, com os menores e jovens, privados de liberdade, partindo da citação evangélica: “Haverá alegria no céu por um só pecador que se converte”. Jesus acolhe os pecadores e come com eles! Esse gesto, disse o Papa, causou murmuração entre alguns fariseus e escribas, escandalizados e incomodados com a atitude de Jesus. Eles queriam desqualificá-Lo e desacreditá-Lo diante do povo.

Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7).

O olhar da murmuração e mexericos

Enquanto eles se limitavam a murmurar ou a ficar indignados, sem a possibilidade de qualquer mudança, conversão e inclusão, explicou o Papa, Jesus se aproxima, se compromete, colocando em risco a sua reputação, e convida sempre a uma maior renovação da vida e da história. Dois modos de se comportar, bem diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – murmuração e mexericos – e o outro que convida à transformação e à conversão, proposta pelo Senhor. Explicando o primeiro modo de se comportar, Francisco disse parece ser mais fácil colocar etiquetas e rótulos que produzem divisão: aqui os bons, ali os maus; aqui os justos, ali os pecadores.

Esse modo de agir dos fariseus e escribas, disse o Papa, contamina tudo, levanta um muro invisível, marginaliza, separa e isola num círculo vicioso.

“ Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação! ”

O olhar da conversão

Aqui, Francisco esclareceu a atitude de Jesus que visa a conversão e a transformação, mediante o amor misericordioso do Pai:

Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação.

Ao comer com os publicanos e pecadores, Jesus rompe a lógica de separação, exclusão, isolamento e divisão entre bons e maus. Assim, rompe também com outro tipo de murmuração, a interior, incapaz de transformação.

Por isso, o Santo Padre exorta os presentes a percorrer este caminho de superação, proposto por Jesus, sem desanimar. A alegria e a esperança do cristão de todos nós, nasce da experiência do olhar de Deus, que caminha conosco e ajudar-nos a alcançar nossas metas. O Papa concluiu sua meditação aos jovens detidos, com uma exortação:

Irmãos, vocês fazem parte de uma família, vocês têm muito para partilhar. Ajudem-nos a descobrir qual a melhor maneira para viver e acompanhar o processo de transformação, do qual precisamos”.

Uma sociedade adoece, disse por fim o Papa, quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos; adoece quando vive a murmuração, que esmaga e condena com insensibilidade. No entanto, uma sociedade se torna fecunda quando consegue incluir e integrar, assumir, lutar e criar oportunidades e alternativas para a sua comunidade, como a instrução e o trabalho. Eis os verdadeiros caminhos de inserção e de transformação, que o Senhor abençoa, apoia e acompanha.

Após o rito penitencial, o Papa Francisco deu de presente aos jovens detidos uma escultura de ferro de Cristo na Cruz contornado por ramos de oliveira, de um artesão italiano, Pietro Lettieri.

Ao término da celebração, Francisco retornará à Nunciatura Apostólica da capital panamenha, para o almoço e um breve momento de descanso. Na parte da tarde, o Santo Padre se transferirá ao Campo de Santa Maria La Antigua, às margens do Oceano Pacífico, onde presidirá à Via Sacra com os milhares de jovens desta 34ª JMJ. Com este encontro, o Papa encerra seu terceiro dia de atividades em terras panamenhas.

 

Fonte: www.vaticannews.va

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