Havana (RV) – No final da tarde deste domingo o Papa Francisco, após a visita de cortesia ao Presidente Raúl Castro no Palácio da Revolução, dirigiu-se à Catedral da Imaculada Conceição e San Cristóbal de Havana para a oração das Vésperas com sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas. Antes porém, fez uma parada não programada na Paróquia “A Rainha”, construída pelos jesuítas, e onde foi saudado por alguns prelados e fiéis.
A saudação do Arcebispo de Havana, Cardeal Ortega y Alamino, que falou várias vezes em “pobreza” e o testemunho de uma religiosa que falou dos “mais pequenos”, fez com que o Santo Padre deixasse de lado a homilia preparada, e a pronunciasse de forma espontânea: “Quando falam os profetas – e todos os sacerdotes são profetas, todos os batizados e os consagrados são profetas”, devemos ouvi-los, por isto entrego a homilia preparada ao cardeal e depois podem lê-la e meditá-la” disse o Papa.
A pobreza, disse o Papa, é “uma palavra muito incômoda, pois vai de contramão à “estrutura cultural” do mundo”. “O espírito mundano – observou Francisco – não a conhece, não a quer, a esconde, não por pudor, mas por desprezo. E se tem que pecar e ofender a Deus para que não chegue a pobreza, o faz. O espírito do mundo não ama o caminho do Filho de Deus, que se fez pobre, se fez nada, se humilhou para ser um de nós”.
A pobreza também deu medo ao jovem rico, que era tão generoso e observava os mandamentos, mas ficou triste quando Jesus lhe pediu para que desse tudo aos pobres. “A pobreza, tentamos escamoteá-la, seja por coisas razoáveis, mas falo de escamoteá-la no coração”:
“Os bens são dom de Deus. Mas quando entram no coração e começam a conduzir a vida, perdeste. Não és como Jesus. Tens a segurança onde a tinha o jovem triste”.
Santo Inácio, continuou o Papa, afirmando com bom humor “não querer fazer publicidade da família”, dizia que a pobreza é o muro e a mãe da vida dos consagrados. Era o muro por a protegia das mundanidades e a mãe porque dava mais confiança em Deus:
“Quantas almas destruídas, almas generosas, como a do jovem entristecido, que começaram bem e depois foram se apegando o amor a esta mundanidade rica e terminaram mal, medíocres, sem amor, pois a riqueza empobrece, e empobrece mal, nos tira o melhor que temos, nos faz pobres na única riqueza que vale a pena, para colocar a segurança em outro”.
Espírito da pobreza
O espírito de pobreza, de despojamento, de deixar tudo para seguir Jesus, não inventei eu – disse o Santo Padre – aparece várias vezes no Evangelho.
Um amigo de Bergoglio lhe contava que quando entra o espírito de riqueza, de mundanidade rica no coração de um consagrado ou de uma consagrada, de um sacerdote, bispos, de um Papa, quando alguém começa a juntar dinheiro, para garantir o futuro, então “o futuro não está em Jesus, está em uma companhia de seguros do tipo espiritual, que eu controlo. E quando uma Congregação religiosa começa a juntar dinheiro, economizar, economizar, Deus é tão bom que manda um ecônomo desastrado, que a faz quebrar:
“São as melhores bênçãos de Deus a sua Igreja, os ecônomos desastrados, porque a fazem livre, a fazem pobre. Nossa Santa Mãe Igreja é pobre, Deus a quer pobre, como quis pobre a nossa Santa Mãe Maria. Amem a pobreza como mãe”.
O Papa disse que faria bem “à nossa vida consagrada, à nossa vida presbiteral, perguntar-se: “Como está meu espírito de pobreza? Como está meu despojamento interior?”, recordando a primeira das Bem-aventuranças: “Felizes os pobres de espírito, os que não estão apegados à riqueza, aos poderes deste mundo”.
O Pontífice falou a seguir nos “mais pequenos”, referidos pela irmã. “O mais pequeno é uma frase de Jesus”, observou: “Aquilo que fizeste a um dos meus pequeninos, a mim o fizeste”:
“Existem serviços pastorais que podem ser mais gratificantes do ponto de vista humano, sem serem maus ou mundanos, porém, advertiu, quando alguém busca a preferência interior ao mais pequeno, aos mais abandonado, ao mais doente, ao que não conta nada, ao que não quer nada, ao mais pequeno, e serve ao mais pequeno, está servindo a Jesus de maneira superlativa. A vós mandaram onde não querias ir”. (JE)
Fonte: Rádio Vaticano