Foi anunciado nos últimos dias o lançamento de um livro que chocou a imprensa internacional. Revelações de uma amizade de décadas entre o saudoso papa João Paulo II e uma polonesa chamada Wanda Poltawska. Wanda publicou um livro (ainda sem tradução para o Brasil) onde selecionou algumas das inúmeras cartas que trocou com o amigo Karol Wojtyla (nome de batismo do Papa João Paulo II) como padre, bispo e papa. Anos de partilha e de amizade. Wanda é a mesma que recebeu uma grande graça de Deus através da intercessão do amigo no vaticano. Com câncer em estado grave, escreveu ao papa que na época recorreu escrevendo um pedido de oração ao taumaturgo frade capuchinho de San Giovanni Rotondo (Itália): Padre Pio de Pietrelcina. Não deu outra. Wanda ficou curada!
É possível uma amizade sadia (desinteressada) entre um homem e uma mulher? O testemunho de João Paulo II confirma que sim. Na verdade, na Igreja muitos outros casos semelhantes se seguiram: São Francisco e Santa Clara, São Bento e Escolástica, Santa Joana e São Francisco de Sales, etc. Em tempos de perda do sentido do amor, a amizade desinteressada e pura se tornou uma realidade que pouca gente consegue experimentar. A cultura atual nos ensina a duvidar de tudo e de todos. Não por nada, o anúncio do lançamento do tal livro suscitou em alguns jornalistas a suspeita da pessoa do Papa. Quando moramos perto do esgoto, com o tempo nosso olfato se acostuma e não conseguimos perceber o mau cheiro que nos envolve. O mesmo acontece com quem se acostumou a viver na impureza e no erotismo barato. Enxerga isso em tudo e não percebe a própria podridão.
É possível cultivar amizades sadias no mundo de hoje. A Bíblia diz que ‘quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro. Um amigo fiel é uma poderosa proteção!’ (Cf. Eclo 6,10ss). As verdadeiras amizades podem trazer até a restauração da saúde: do corpo e da alma. Nenhum ser humano nasceu para ser uma ilha. Precisamos uns dos outros. Quem se isola acaba se tornando ranzinza e mau humorado.
A carência de um grande amigo é tão séria que há gente que transfere essa necessidade para animais de estimação. Conheci uma pessoa que passou 7 dias de luto depois que seu cãozinho de estimação teve de ser sacrificado após uma doença que o fazia sofrer. Tem sido tão raro encontrar verdadeiros amigos que o ditado popular chegou a cunhar a expressão: “o cachorro é o melhor amigo do homem!”. Já tive animal de estimação. Sei que a presença e a amizade deles é um grande consolo. Mas um animal irracional, por mais que seja fiel, não é capaz de orar por mim. Um amigo de verdade consegue dar um bom conselho na hora que o sofrimento da vida pesa nos ombros e os sofrimentos nos obrigam a tomar decisões dolorosas. Posso testemunhar isso na vida de comunidade que assumimos em casa. Homens e mulheres convivendo na pureza e oração!
Feliz de quem encontrou um verdadeiro amigo. Feliz de quem sabe encontrar a possibilidade de grande amizade mesmo no sexo oposto. Nosso mundo está perdendo a capacidade de admitir que seja possível uma grande amizade até mesmo entre um homem e uma mulher. O amor de amizade, (filia para os gregos) é o que mais prepara para assumir os compromissos radicais do amor dos esposos (eros, na Grécia) e daquele que os filhos esperam de seus pais. Quem não saboreou uma verdadeira amizade, deixou de viver uma das realidades mais belas desta vida.
Se você deixou de acreditar nisso porque foi traído ou porque aquela bela amizade se tornou perigosa. Dê a você mesmo a chance de tentar de novo. Aquilo que parece ser arriscado pode ser também uma oportunidade de experimentar algo que ouro não pode pagar e a vida inteira ficaria insossa na sua ausência.
Que Deus te abençoe!
Seu irmão,
Pe. Delton Filho