No discurso do Papa ao Corpo Diplomático credenciado junto à Santa Sé, foi reafirmada a paixão desinteressada da Igreja pela humanidade, especialmente se ferida ou humilhada. O compromisso de Francisco em construir pontes entre diferentes povos, culturas e religiões está emergindo cada vez mais como uma característica distintiva de seu Pontificado.

Pontífice. Construtor de pontes. Se há uma característica que se torna cada vez mais clara no decorrer desses quase nove anos de pontificado de Francisco, é precisamente o compromisso incansável do Sucessor de Pedro em construir pontes para unir onde há divisão, em atravessar as barreiras visíveis e às vezes invisíveis de separação que impedem o encontro.

Pontes entre povos e culturas, pontes entre líderes religiosos e políticos que o Papa se comprometeu a construir com uma intensidade e um sentido de urgência que aumentaram quanto mais ele viu muros erguidos. Muros que, após o fim da Guerra Fria e do mundo dividido em dois blocos, pensava-se – talvez excessivo otimismo – serem relegados aos livros de história. Hoje, este compromisso apaixonado e abnegado é quase unanimemente reconhecido pela comunidade internacional, como demonstrado pelo pedido do Papa e da Santa Sé de mediação e intervenção em muitas das crises de nosso tempo.

No discurso de hoje (10/01) ao Corpo Diplomático, uma espécie de Urbi et Orbi sobre o estado de saúde do planeta, Francisco mais uma vez reiterou que o diálogo e a colaboração entre os povos são etapas de um percurso inevitável se quisermos realmente preparar um futuro de esperança para as novas gerações.

“Não devemos ter medo”, afirmou em uma passagem chave de seu discurso, “de criar espaço para a paz em nossas vidas, cultivando o diálogo e a fraternidade entre nós”. Um espaço que – como mostra dramaticamente a pandemia, outro tema central na audiência para os embaixadores credenciados junto à Santa Sé – precisa de uma visão integral e não fragmentada. Aos olhos da Igreja, “especialista em humanidade”, como sublinha Paulo VI na Populorum Progressio, a paz e o desenvolvimento, o meio ambiente e os direitos estão interligados. Tudo se mantém unido.

A Igreja tem o homem no coração e nada mais, porque, nas palavras de João Paulo II, “o homem é o caminho da Igreja”. Um amor pela humanidade – especialmente pelos feridos, descartados, humilhados – que o Papa Francisco testemunha com gestos e palavras, caminhando nos passos de seus antecessores e desenvolvendo seu Magistério com aquela “criatividade do amor” que é uma tarefa idealmente dada a cada um de nós.

Mesmo em 2021, apesar das grandes dificuldades geradas pela pandemia, Francisco continuou a construir arcos e pilares, a colocar tijolos para consolidar a estrada. Ele não está apenas lançando processos, para retomar uma fórmula que lhe é cara, mas também pontes. É claro que nem todos serão concluídos, mas não por este motivo – Francisco nos encoraja – devemos parar porque “abençoados são os construtores da paz”, mesmo que os frutos de seu trabalho sejam colhidos por outros e em tempos que não podemos prever agora.

A “viagem impossível” ao Iraque talvez seja o exemplo mais extraordinário deste esforço do Papa, e não foi só isso no ano que se concluiu. Uma viagem que muitos desaconselhavam, mas que, em vez disso, provou ser uma mensagem poderosa e profética a favor da paz e da fraternidade. Esta última, por outro lado, é quase o segundo nome na “carteira de identidade” do Pontificado de Francisco. O Papa da Fratelli tutti – que em Mosul pôde afirmar: “A fraternidade é mais forte que o fratricídio” – nos lembra que naquela ponte, chamada humanidade, todos nós devemos tomar medidas para que possamos nos encontrar. E devemos fazê-lo sobretudo para encontrar aqueles que estão mais distantes porque, por mais distantes que estejam de nós, eles são sempre nossos irmãos.

 

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