Você Conhece a História da Maior Romaria Mariana do Estado de Goiás?

Devoção a Nossa Senhora d’Abadia de Muquém

No livro “Senhora da Abadia”, Pe. Arlindo Ribeiro da Cunha, da Diocese de Braga, Portugal, escreve que a devoção a Nossa Senhora d’Abadia de Muquém deu-se ao cumprimento de uma promessa que um português, ocupado em explorar ouro em uma mina de Muquém, mandara trazer uma imagem com o título de Nossa Senhora da Abadia de Portugal.

Em sua obra “Ermitão de Muquém”, publicada em 1852, o afamado romancista sertanejo, Bernardo Guimarães, descreve um trecho da história: “Lá bem longe, no coração dos desertos, em uma das mais remotas e mais despovoadas província do Império, existe uma das mais notáveis e concorridas dessas romarias, notável, sobretudo, se atendermos ao sitio longínquo e às enormes distâncias que os romeiros tem de percorrer para chegarem ao solitário e triste vale em que se acha erigida a capelinha de Nossa Senhora da Abadia do Muquém, na província de Goiás, cerca de oitenta léguas do norte da Capital e a sete léguas da povoação de São José do Tocantins, às margens de um pequeno córrego que tem o significado nome de Córrego das Lágrimas”.

A história de devoção a Nossa Senhora d’Abadia teve início por volta do século XVII, período de mineração na Capitania de Goiás, ciclo do ouro e da escravidão. Em 1732, na região de Muquém, hoje distrito do município de Niquelândia, em Goiás, havia um quilombo formado por escravos foragidos das minas de Água Quente, Cocal, Traíras e São José do Tocantins (hoje intitulada Niquelândia). Conta-se que, em meados de dezembro, veio para essa região um experiente feitor, capitão de mato, cujo o propósito era capturar os quilombolas. Os escravos tinham valor de moeda e o trabalho utilizado em minas de ouro. Ao se aproximar das Montanhas de Muquém, o valente feitor fez um voto de que, se conquistasse o quilombo de maneira pacifica, mandaria construir no local uma capela dedicada ao santo do dia. Sendo sucedido na empreita, o capitão mandou construir a capela dedicada a São Tomé Apóstolo, santo do dia 21 de dezembro.  Ao redor da capela, surgiu o Arraial de Muquém, atraindo aventureiros, mineiros, mercadores e militares. Um velho português, mineiro de profissão, instalou-se na região da mina de ouro. A coroa portuguesa regia normas severas àqueles que ignoravam as leis auríferas, quanto o registro da mina e o imposto “quinto de ouro”.

Segundo a tradição, por ter-se recusado a pagar o quinto, como era demandado, foi denunciado. Em tal aperto, o português promete buscar em Portugal uma imagem de Nossa Senhora d’Abadia, caso não fosse encontrado ouro no ponto em que trabalhava. Nada estranho que o português, em momento de aflição, invocasse a proteção de Nossa Senhora d’Abadia, visto esta devoção estar muito propagada em Portugal, mormente na região de Braga, desde os anos 1107. Julgado e inocentado, o português retornou a sua cidade de origem, freguesia de Santa Maria do Bouro, em Portugal, a fim de adquirir a imagem de Nossa Senhora.  No Mosteiro das Montanhas dedicado a Santa Maria do Bouro, os monges fabricavam imagens de Nossa Senhora. Os monges residiam no mosteiro, uma espécie de Abadia, cujo superior era o Abade. Adquirido a imagem de Nossa Senhora d’Abadia, o português fez longa viagem na Travessia Atlântica e depositou a imagem da santa na Capelinha de São Tomé.  Narra-se, oficialmente, a saída deste português e sete famílias que o acompanharam do litoral de Porto Seguro, na Bahia, rumo a Muquém.

Após a captura do quilombo de Muquém, surgiu o Arraial de Muquém, no ano de 1740.   O solitário português depositou a imagem de Nossa Senhora na Capelinha de São Tomé. O documento eclesiástico comprova que, em 1748, houve um pedido ao bispado do Rio de Janeiro para permissão de instalação da pia batismal na capelinha. A igreja era muito simples. As famílias vinham rezar o terço e os benditos de Nossa Senhora. Sacerdotes da freguesia de São José do Tocantins (atualmente Niquelândia) vinham em desobriga ao Arraial de Muquém. As orações aos pés de Nossa Senhora, os testemunhos de milagres e a devoção foram atraindo fiéis. A fama de Muquém chegou aos mais afastados recantos do país. A devoção mariana espalhou pelas províncias do Império de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Pará, Maranhão e Bahia.

O culto de Nossa Senhora d’Abadia foi descrito pelo respeitado general Português Cunha Mattos. Ele afirma que, no ano 1824, viu aquela florescente localidade muito decadente, em estado ruinoso e com muito poucos habitantes: “Tem 35 casas e a igreja de São Tomé, célebre pela devota imagem de Nossa Senhora da Abadia, muito venerada a 15 de agosto, não só pelos habitantes desta província, mas ainda pelos de fora dela”, e ainda “São Tomé, igreja pequena com dois altares, um deles de Nossa Senhora da Abadia, muito venerada pelo povo desta província, que aí vai em romaria a 15 de agosto”. Já muito venerada no ano de 1822, é sinal de que o culto vinha sendo praticado a decênios de anos antes.

O bispado de Goiás, em visita pastoral a Muquém, deixa relatos escritos sobre a Romaria, como Dom Joaquim Gonçalves (1867), Dom Claudio Gonçalves Ponce Leão (1882), Dom Prudêncio Gomes da Silva (1900); criação da Prelazia de São José do Alto Tocantins (1924), o Prelado Monsenhor Francisco Ozamis (1927), Dom Florentino Simón (1933), Dom Francisco Prada Carrijo (1940) e outros.

Certa vez, ouvi o relato de um romeiro, Rubens, de 92 anos. Seu bisavô vinha da região do triangulo mineiro com o propósito de participar da Romaria de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém, conhecida popularmente como Romaria de Muquém. Romeiros vindos de Minas Gerais pediram a Dom Claudio Gonçalves Ponce Leão, bispo de Goiás em 1889, permissão para construir uma capelinha de Nossa Senhora d’Abadia, dando origem a Nossa Senhora da Abadia de Água Sujas, na cidade de Romaria, em Minas Gerais.

É assim que a tradição secular conta como surgiu a devoção a Nossa Senhora d’Abadia de Muquém. O fato do dia 15 de agosto ter sido escolhido como a data da Romaria de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém confirma a informação de que a devoção teve origem em Portugal, pois é precisamente no dia 15 de agosto que se celebra a grande romaria no célebre Santuário de Bouro, no Montanha de São Miquel, na Diocese de Braga.

Santuário Diocesano Nossa Senhora d’Abadia de Muquém

Considerado referência da fé católica no Estado de Goiás, o Santuário Diocesano Nossa Senhora d’Abadia de Muquém é o único com título de Gemellaggio com a Basílica da Anunciação, em Israel.

Pertencente à Diocese de Uruaçu, o Santuário está localizado em Muquém, distrito do município de Niquelândia, cercado por um verdadeiro santuário ecológico, formado por matas, montanhas, córregos e animais silvestres.

Gemellaggio com Santuário Nossa Senhora de Nazaré (Basílica da Anunciação)

No dia 10 de outubro de 2015, em missa solene na Terra Santa, foi abençoado o ícone de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém, que ficou exposto no Santuário Nossa Senhora de Nazaré (Basílica da Anunciação), oficializando o documento Gemellaggio entre os dois Santuários Marianos. Pela primeira vez, o hino de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém foi entoado dentro da Basílica da Anunciação, local sagrado em que Maria recebeu a visita do Arcanjo São Gabriel.

Os dois Santuários passaram a viver uma comunhão de bênçãos, indulgências e celebrações. Manifestando essa irmandade, três celebrações da Romaria de Muquém deste ano elucidaram o gemellaggio: a Santa Missa da Anunciação, a Solene Procissão da Fiaccolata e a presença do diácono da Basílica da Anunciação.

O gemellaggio marcou a história de ambos os Santuário Marianos, e da Diocese de Uruaçu, abrindo um caminho de fraternidade, evangelização e espiritualidade.

Romaria de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém

A Romaria de Nossa Senhora d’Abadia de Muquém é a mais antiga romaria do estado de Goiás, com mais de 270 anos de história, tradição e devoção. Vivenciada entre os dias 5 e 16 de agosto, a romaria atrai cerca de 400 mil fiéis, romeiros e visitantes, vindos de diversas localidades do Estado de Goiás e do Brasil ao santuário mariano.

A programação da Romaria de Muquém, como é popularmente conhecida, inclui Celebrações Eucarísticas, Via-Sacra, momentos de oração, confissões, vigílias, shows católicos e procissões com a Imagem de Nossa Senhora d’Abadia. Além de fiéis e romeiros, a romaria acolhe bispos e centenas de sacerdotes.

A grandiosa romaria é considerada uma verdadeira “cidade da fé”. É tradição de milhares de romeiros acampar no entorno do Santuário, em área destinada a acampamento, para acompanhar a extensa programação.

A devoção está presente na alma do povo goiano e, dentre as inúmeras maneiras de se expressar a fé, a Romaria de Muquém tem um significado especial. Inspirados pelo amor maternal de Maria, milhares de romeiros viajam centenas de quilômetros, de automóvel, a cavalo ou a pé, para vivenciar a grandiosa festa religiosa e homenagear a quem reverenciam como a Padroeira de Goiás.

Fonte: www.am15.com.br

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